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Atualizado: 25 de mai. de 2020




Tudo o que está vivo morre. Morrem os pássaros, que adoecem e não podem mais alçar vôos, as plantas que não produzem flores, morrem-se sonhos, daqueles que nunca foram sonhados. Morrem palavras que foram ditas e também as que não foram. Crianças que não tiveram a chance de percorrer as suas jornadas, que foram interrompidas. Interrupções que são tão nefastas para as concepções de vida, de florescimento. Nem tudo são flores... dizem. Enfim, morre-se. De alguma maneira, somos todos impelidos pelos grandes movimentos de vida e de morte. Mas da morte, queremos apenas quando for a nossa hora, e quando será? E se esta hora for antes de for a hora? Existe tempo certo para existir? Existe uma moral para a morte? Talvez a morte seja mais próxima de nós até mesmo que a vida! Explico... não se tem vida se não se souber que a morte é o fim, o ponto final, não adianta ter pensamento positivo, ela virá, como tsunami... sem deixar vestígio... ela virá nas amizades que pareciam tão profundas, na fotografia de família, onde o tempo trabalha as coisas que são inevitáveis, trabalha nos afastamentos. A impermanência das relações e o sofrimento impresso em cada ausência de um ente. A única pessoa que percorrerá junto a você toda a sua vida será você mesmo. Assustador? Sim e, quem sabe não, pois estabelecer novos rumos para uma intimidade intrapsíquica seja tão necessária quanto os anos dedicados aos outros. Fica uma questão que o seguinte koan propõe: "qual era a sua face antes de nascer?".

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Final de ano remete a tempos de família, das conexões mais conhecidas de uma pessoa, brindes, abraços e visitas. Contato. Contato com o absoluto desconhecimento deste outro conhecido. Digo outro também ao estranho que vamos nos tornando aos olhos de quem mais nos conheceu. Neste caso, o contato fora, torna-se no mínimo uma dança da evitação e intimidade. Pois um lado, existe a tentação e ser aquele velho conhecido, por outro, como se garante a permanência e a imanência de ser sempre aquilo que se foi? Nisto, as relações se tornam um grande caldeirão, de cozimento de aspectos do velho e do novo, do estranho e do conhecido. Estar em contato com esta multiplicidade em si mesmo e nos demais implica em trabalhar com o eterna mutação de si mesmo e também de ser seduzido a ser o que sempre se foi. Este pode ser um grande presente.


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Existem situações de vida que implicam em atravessar, simplesmente, sem questionamentos, sem avaliar seus medos, te "diz" simplesmente VAI. Assim como, parece que a vida não dá muita atenção aos nossos desejos, sonhos e aspirações... Ela insinua, joga e faz o que quer de você, parece ser um movimento independente, autônomo... A máxima "onde há vontade há um caminho" na maioria das vezes não possui nenhum sentido quando a morte leva alguém amado, quando precisa urgentemente de um emprego, ou quando algo te interrompe. Aí não basta vontade, pois mesmo que ela esteja presente a marola da vida vai te levar para onde ela queira, independente de quantas braçadas der. Fazer força contrária só te levará a exaustão. De que maneira se manter na superfície quando a vida está num movimento descendente? Como manter a visibilidade se de alguma forma tudo fica opaco e nebuloso? Como continuar tendo vontade, no sentido de Schopenhauer, se a correnteza está contra? Ouvi certa vez um ensinamento budista tibetano que a vida faz picadinho da gente, e que precisamos estar prontos para sermos picados, tal como Dioniso, picado, cozido e costurado... Neste mar da vida tudo é muito maior que nós, precisamos contemplar a nossa pequenez, mais uma vez. Não no sentido de não nos aventurarmos, mas no sentido de encontrar conforto no atravessar, incessante. Continue dando braçadas!


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